21 junho 2012

Newgrange, 1000 anos mais antiga que as Pirâmides



A Irlanda tem cenários belíssimos para serem apreciados e neste post vou apresentar um dos mais impressionantes, principalmente para quem gosta de história e arqueologia como eu.
Que tal conhecer uma tumba construída originalmente entre 3300 e 2900 a.C., cerca de 1000 anos antes da Pirâmide de Quéops no Egito e Stonehenge?
Estou falando de Newgrange (Dún Fhearghusa, em irlandês), uma tumba do Conjunto Arqueológico do Vale do Boyne, no Condado de Meath, a 52 km de Dublin e declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO.

Vista aérea de Newgrange

Um dos mais famosos sítios pré-históricos do mundo e o mais famoso da Irlanda, Newgrange foi construído de modo que, ao nascer do sol do dia mais curto do ano (solstício de inverno), um fino raio de sol ilumine por pouco tempo o piso da câmara no final de um longo corredor.

Túnel que conduz à câmara

Construído por uma das primeiras comunidades agrícolas da Europa Ocidental, esses agricultores sofisticados também eram astrônomos e incorporaram uma caixa de luz e um calendário solar na passagem da entrada da tumba. Isso foi feito para um ritual que iluminava os ossos dos mortos cremados na câmara interna durante o solstício de inverno. Foi também um ritual para comemorar o renascimento na vida após a morte e o alvorecer de um novo ano.


No período Neolítico, Newgrange continuou como um local de cerimônias. Parece ter sido usada principalmente como uma tumba. Foram encontrados restos humanos cremados de cinco indivíduos. O sol parece ter sido um importante elemento nas crenças religiosas no período Neolítico. Ainda hoje o alinhamento solar em Newgrange é muito preciso.
Com o tempo, a tumba foi completamente cobertura de terra e grama, permanecendo intocada até 1699 quando foi achada por acaso, ou seja, Newgrange teve mais de 4 mil anos de preservação natural.
Em 1699, Charles Campbell herdou as terras onde está Newgrange, pediu para seus trabalhadores buscarem algumas nessa área, pois havia boa quantidade de pedras espalhadas na região. Depois de remexerem um pouco, acabaram por encontrar a entrada da tumba.
Com a tumba vulnerável, alguns danos foram causados e muito do que havia nela foi saqueado, prejudicando pesquisas que foram feitas posteriormente. Entretanto, a construção e seu interior permaneceram intactos, prova de uma impressionante obra-prima de artistas e engenheiros da era da pedra. Este monumento fabuloso foi construído sem utilizar a utilização de roda, sem o conhecimento sobre o metal e sem utilizar qualquer tipo de argamassa.
A tumba é cercada por 97 pedras enormes com desenhos esculpidos em espirais, losangos, triângulos etc.


Detalhes nas pedras que cercam o monumento

A pedra em frente à entrada possui espiral no sentido horário e anti-horário e seu significado é desconhecido. Há muitas teorias sobre elas, mas a mais popular é que as três espirais principais representam as tumbas mais importantes daquela área – Newgrange, Knowth e Dowth e o desenho abaixo é o Rio Boyne, já que a área fica no vale do rio de mesmo nome.


Paulinho, Paola e eu


As três espirais principais

A fachada de quartzo branco foi reconstruída de acordo com o que os arqueólogos acreditavam ser a forma original da tumba. Nota-se algumas pedras de granito escuro em meio ao quartzo. A parte mais escura, que leva à entrada da tumba foi deliberadamente colocada “para dentro”, mostrando que não é a construção original de Newgrange.


O detalhe mais importante da construção é uma pedra na entrada da tumba forma uma “janelinha” acima da porta. É na verdade uma claraboia da idade da pedra, porém ela não ilumina lá dentro todos os dias. Somente por volta de 1960 foi descoberto que, algo muito especial acontece durante o solstício de inverno, dia 21 de dezembro, data que marca o início do inverno e muitas vezes simboliza o renascimento.
Neste dia raios de sol entram através da claraboia e por apenas alguns minutos percorrem os 19 metros do corredor até chegar à câmara principal, iluminando-a totalmente.


Veja que a imagem mostra a visão lateral da tumba e pode-se perceber que ela é ligeiramente inclinada, de modo que os raios de sol cheguem até a câmara principal.


Agora repare como é o caminho que a luz percorre, se visto de baixo para cima. O teto parecer um monte de pedras desordenadas, pedras menores foram colocadas em cima de pedras maiores até o topo. Somente pedras! Não há qualquer tipo de rejunte.

Detalhe do teto

Em cima do teto de pedras empilhadas há cerca de 200 mil toneladas de outras pedras que formam toda a construção da tumba, que é possível ser visto pelo lado de fora. Sobre todo esse monte de pedra ainda tem terra e grama. Incrivelmente Newgrange é totalmente impermeável, não entra água. Lembro que a construção tem aproximadamente 5 mil anos.


O mais interessante é que o posicionamento de Newgrange foi todo pensado de modo que somente durante o solstício de inverno os raios de sol entrassem na tumba.


Não é todo mundo que tem o privilégio de assistir ao espetáculo. Anualmente um pequeno grupo de pessoas são sorteadas em uma urna, onde os interessados colocam seus nomes. Não mais que 10 pessoas porque o espaço na câmara é pequeno e o corredor para chegar até ela é muito estreito, além de ser totalmente escuro. Portanto, não é um passeio indicado para claustrofóbicos.

Os raios de sol chegando ao final do túnel onde se encontra a câmara mortuária

Entretanto, a visita é espetacular em qualquer data e você não correrá o risco do sol não comparecer e ficar frustrado. Luzes instaladas dentro da tumba simulam exatamente o que acontece no solstício e a experiência e a sensação é fantástica e emocionante.
Não deixe de apreciar a construção do teto da câmara principal, é interessantíssima.
A visita começa obrigatoriamente pelo Centro de Visitação Brú na Bóinne, onde são exibidos alguns dos objetos encontrados nas tumbas e um vídeo sobre a história do lugar.

No Centro de Visitação

Imagens mostram como deve ter sido a construção

Depois os visitantes são conduzidos de micro-ônibus à(s) tumba(s) que você deseja visitar, seja Newgrange, Knowth ou Dowth.


A partir de Dublin saem excursões para o Centro de Visitação Brú na Bóinne que podem ser reservadas pela internet:  www.newgrangetours.com
Outra opção é pegar um trem até Drogheda e depois um ônibus até o Centro de Visitação.
Se preferir ir de carro, como nós, siga pela rodovia M1 a partir de Dublin.
Neste mesmo dia aproveitamos para conhecer outro sítio arqueológico fantástico, Hill of Tara, mas este fica para outro post!
Uma ótima dica para quem deseja explorar outros patrimônios irlandeses é o Cartão Heritage. Conheça os detalhes no site http://www.heritageireland.ie/en/Info/HeritageCards/#d.en.974

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